quarta-feira, 12 de maio de 2010

Carta aberta!

Apesar do lapso temporal entre um texto e outro, é cada vez mais gratificante manter este blog. Eu percebo isso porque, apesar de não me esforçar para publicar texto meu, volta e meia recebo algumas preciosidades vindas de gente muito capaz, antenada com os problemas de nosso município, mas que não são expostos/veiculados na mídia "oficial", digamos assim, por contrariar a opinião de seu mantenedor, que, para mim, sem sombra de dúvida, é o poder público. Como escapar à tirania dos "donos da informação"?

Se não fosse assim, que outra explicação encontraríamos para a não publicação desde simples recados até textos responsáveis, bem elaborados, bem redigidos e fundamentados e que contém de pecado apenas o fato de não ajoelhar e dizer amém para o que está posto? Será o medo de ir à falência pelo risco de deixar zangadinho o seu patrão que não sabe receber críticas? Que quer se valer, cooptando tudo e todos, das práticas dos regimes de exceção, de só deixar noticiar os aspectos positivos (até mesmo fabricando-os) de sua gestão?

Bom, acreditando que isso só acontece na China, em Cuba, na Venezuela, Coréia do Norte etc., nunca aqui no Brasil ou em Camaça,é que tenho que me precaver e, então, mantenho este blog. É porque a gente nunca sabe, então temos que ter uma via de escape, um lugar nosso (alías, temos que dar graças a Deus pela vida do sacaninha que inventou a internet, esse espaço mais do que democrático), onde não conseguem, tolher, comprar ou aprisionar o que pensamos e nem impedir de passar adiante.

O texto a seguir me foi enviado por Marcelo Figueiredo, que apesar de ter sobrenome de presidente da ditadura, é um cidadão que já nasceu sob os auspícios da democracia, e portanto, não fica calado pra fazer média com ninguém, principalmente quando assunto é deveras importante e atinge diretamente a vida de todos nós, ferindo de morte o meio ambiente em que vivemos.

Marcelão além de ambientalista, é licenciado em geografia pela UEFs, tricolor que nem eu (graças a Deus) e integrante, junto com Ítalo e Bogus, de uma das minhas bandas preferidas: a The Pivo's.

Leiam atentamente, a seguir, a CARTA ABERTA de Marcelo;



Camaçari – Ba : Economia, política energética e questão ambiental, 12/05/2010:


A análise que se procede abaixo não pretende de maneira alguma ser uma abordagem de caráter científico, mesmo porque se faz necessário que a mesma flua com certa horizontalidade no seio da sociedade como um todo, mais especificamente, a sociedade camaçariense. Entretanto, o ofício nos obrigará a uma fazer uma reflexão cuja complexidade dos fatos exigirá ponderar sucintamente sobre algumas questões.

No nosso sistema Solar um dos fatores indispensáveis para a existência e manutenção da vida no planeta Terra é a existência de uma camada gasosa, chamada de Atmosfera, que envolve nosso planeta em estado de relativo equilíbrio. Nesta atmosfera estão presentes diversos tipos de gases (dióxido de carbono, oxigênio, metano, ozônio, hidrogênio, argônio) que são responsáveis pela manutenção do efeito estufa, efeito esse, por sua vez, responsável pela manutenção do calor no planeta Terra. Todavia, o balanço térmico gerado pelo efeito estufa no planeta Terra pode sofrer modificações em virtude da menor ou maior concentração de alguns gases presentes na atmosfera, dentre eles o dióxido de carbono (CO2) gerado no queima de combustíveis fósseis (carvão mineral e derivados do petróleo) ou na queimada de floretas.

Com a I Revolução Industrial em curso ainda na segunda metade do século XVIII na Inglaterra, a sociedade além de instituir novos padrões de produção e de consumo que vem se metamorfoseando até os dias atuais, estabeleceu uma nova relação de equilíbrio ambiental no mundo moderno. As principais fontes de produção energética desse período esteve pautada nas usinas termelétricas. Vejamos a definição que o site www.ambientebrasil.com.br nos traz sobre usina termelétrica:

“ Instalação que produz energia elétrica a partir da queima de carvão, óleo combustível ou gás natural em uma caldeira projetada para esta finalidade específica”.

Na contra mão do equilíbrio ambiental é possível afirmar categoricamente, portanto, que desde o século XVIII, o estilo de desenvolvimento adotado pelas nações mundiais vem comprometendo sobremaneira o balanço térmico gerado pelo efeito estufa, na medida que a queima de combustíveis fósseis nas usinas termelétricas vem contribuindo para uma maior concentração de gases capazes de absorver calor, conduzido-nos deste modo, para um cenário popularizado na última década de aquecimento global.

Vejamos o que o site www.ecoos.org comenta sobre o último grande debate mundial realizado em dezembro de 2009, em Copenhague, com relação a problemática das mudanças climáticas:

“ Se não nos unirmos para adotar uma ação decisiva, as mudanças climáticas devastarão nosso planeta, acabando também com nossa prosperidade e nossa segurança. Os perigos têm se tornado evidentes há uma geração. Agora os fatos começam a falar por si: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, o gelo do Ártico está derretendo e a alta nos preços do petróleo e dos alimentos no ano passado é um exemplo do caos que pode estar por vir. Nas publicações científicas, a questão não é mais se os seres humanos devem levar a culpa pelo que está acontecendo, mas quão curto é o tempo que temos para reduzir danos. Até aqui, a resposta mundial tem sido fraca e sem entusiasmo”

Em nossa querida Camaçari – Ba, que se faz de madrasta pouco gentil para seus legítimos filhos, a resposta tem sido para além de fraca e sem entusiasmo, ecoa mesmo em tom irrefutável de algoz de qualquer movimento ambiental que se coloque a frente dos ditames econômicos, na medida que o dia 12 de Maio de 2010 está sendo inaugurada a temida usina termelétrica Arembepe Energia S/A, estratégia do governo federal (pasmem!),no Poloplast, situado em plena área urbana da cidade.

Deste modo queridos(as) amigos(as), a partir da supracitada data, a Cidade de Camaçari entra em contradição com o que fora acordado nos encontros mundiais sobre a questão ambiental, Rio-92, Rio+10, Copenhague, como também com o que fora ratificado pelo Brasil em documentos oficiais como a Agenda 21 (desenvolvimento sustentável, lembram?) ou o Protocolo de Quioto , ou até mesmo com a Lei Orgânica Municipal em seu capítulo VIII, Artigo 181 e Artigo 182, que diz:

“ A execução de obras, atividades, processos produtivos, instalação de industrias e empreendimentos e a exploração de produtos naturais de quaisquer espécies, quer pelo setor público, quer pelo setor privado, somente serão admitidas quando houver resguardo do meio ambiente ”

Sinceramente, o funcionamento da Usina Arembepe Energia S/A é uma verdadeira espoliação não só com a humanidade, mas principalmente das futuras gerações de filhos e filhas camaçarienses. A situação é grave, gravíssima!

“ Salve ó terra, por todos querida, majestosa cidade baiana, de um povo com alma aguerrida, sob o sol és a mais soberana”



Marcelo Figueiredo, morador da Gleba A, licenciado em Geografia pela UEFS e ambientalista.

3 comentários:

  1. Muito bom! o texto e o blog.

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  2. Infelizmente, Marcelo, os interesses político-econômicos falam mais alto que os da defesa do meio ambiente e dos seres humanos.

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  3. o que é pior, o povo ainda vai bater palmas para esse "grande empreendimento". Essa "espoliação" venderão como algo puramente maravilhoso e todos dirão amém na urna eleitoral.

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