Não sou dado a chamego com
animais, nem me sinto muito confortável quando chego na casa de alguém e o seu
"filhinho" vem me lamber, se esfregar em mim ou coisa que o valha. E
o pior é que os "pais" destes pets esperam que o seu comportamento
seja idêntico ao deles, não lhe é dado o direito de não gostar de certos tipos
de contato. E é sempre a mesma história: “Ele é limpinho, toma banho toda
semana!”, ou “Deixe ele te lamber, faça só um carinho, coce a barriguinha dele
que ele para!”. Não eu. Ele lá eu cá!
Apesar destas (minhas) restrições,
respeito e admiro todas as pessoas que têm um comportamento diametralmente
oposto ao meu, ou seja, a maior parte da humanidade (tô lenhado!), e sempre friso que
apesar de não gostar do contato eu não os maltrato, sou até simpático com eles,
guardada a distância de segurança, e fico revoltado quando alguém os trata com
perversidade, os machuca, ou, quando velhos e doentes, os abandonam em qualquer
esquina e os entrega à própria sorte. Quem age assim, sob minha ótica, teria
coragem de fazer a mesma coisa com um ser humano.
Porém, e há sempre um porém, nos
últimos 14 anos, na casa dos meus pais, um destes animais ocupou o mesmo espaço
que eu me referi nas primeiras linhas deste texto. E que espaço! Killer!!
Cachorro enorme, que amedrontava qualquer um à primeira vista, valente,
sanguinário, assassino já no batismo!!
Qual nada, devido à criação e por
culpa do meu pai, Killer era muito dócil, qualquer pessoa entrava lá em casa desde que estivesse acompanhado por um de nós, um molengão, exceto quando se tratava de
outro animal, de ratos a cavalos, aí sim ele se transmutava em “The Killer”, e se aparecesse mais de um, alguns outros cachorros, por exemplo, ele se tornava o “serial killer”. Nunca vi tanta raiva!
Como eu disse, eu nuca fui
chegado a contatos e ficava “injuriado” quando Killer se aproximava
sorrateiramente e me lambia. Que raiva eu ficava, juro! Colocava ele pra fora
de casa, xingava ele e fechava todas as portas. No fundo eu entendia que essa
era a forma dele “dizer” que gostava de mim, apesar d’eu significar sempre o
seu passaporte para fora.
Mas eu também sou agradecido a
ele. Agradecido pela forma como sempre demonstrou o seu amor por todos lá em
casa, como sempre brincou com minha filha Eduarda e minha sobrinha Bia, que
cresceram com ele, e agora, durante esses cinco últimos anos, pela paciência e
carinho que demonstrava pelo meu guri, Rodrigo. Neste aspecto, as minhas
crianças em nada saíram à mim, graças a Deus!, pois adoram animais domésticos.
O tempo foi nosso inimigo e
Killer já estava muito velhinho! Há mais de ano que eu já não percebia nele a
mesma disposição. Nem para brincar com Bia ou Rodrigo. Nem para sair correndo
em disparada depois do banho dado por meu pai. Que pena! E aí vieram as
doenças, sempre recorrentes. Ele superava, pois muito forte, mas logo
depois vinha outra! Já não tinha força nem pra fugir de casa quando encontrava
um portão aberto, o que era um desespero para todos!
Tudo começou a piorar quando, num
surto do instinto, encontrou a garagem aberta, não se conteve e fugiu atrás de um vira-latas, que lhe escapou facilmente (que vergonha, hein?), e aí, alguns dias depois, ele
já não andava mais, começou a se arrastar, impulsionado pelas patas dianteiras,
e depois nem mais isso!
O nosso Killer já estava
definhando e nós todos sofríamos muito com isso! E, veja só a ironia, eu, que
guardo aquela distância e blá blá blá, me vi várias vezes carregando ele de um
lado para outro para tirá-lo da grama por causa do sol, ou movê-lo de um lado
para outro, pois muito quente o piso, ou para lhe levar a cuia de água até sua
boca, pois mal tinha força para erguer o pescoço e a cabeça!
Quantas vezes ao erguê-lo eu
sujei as mãos do sangue que minava das suas enormes feridas abertas! Pra onde foi a
minha “restrição” ao contato com animais? Eu respondo: ela ainda está lá, só
que está no mesmo lugar onde também residem a minha humanidade e o meu amor por
todos os seres vivos. Foi Cristo quem ensinou!
Muitas vezes eu chorei, como
estou chorando agora! Mas sei que já já chega a hora de só lembrar dele com
alegria pelos muitos momentos bons que todos tiveram com ele. Posso citar aqui o já
tão citado Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo
que cativas!”, mas só que vou inverter os sujeitos para dizer que é Killer que
não poderia ter nos deixado, sei que ele precisava descansar, estava sofrendo
muito, mas ele conquistou a todos nós então é
responsável pela gente, não tinha esse direito, não poderia ter partido!
Minha mãe me disse que ontem
Rodrigo, ao chegar em sua casa, perguntou: “Vó, eu já cheguei, por que Killer
não veio me cheirar?”. Cadê a resposta? Não há! Neste instante, se eu conseguir
terminar de escrever, só posso dizer:
Obrigado, meu amigo!
P.s.: Este vídeo tem três anos!
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